quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Vai pro livro :A infância, a mala, por fim a briga





Eu me lembro de quando tinha 6 anos e vivia repetindo para quem quisesse ouvir, que eu amava a escola onde eu estava, que eu nunca me mudaria dali, só sairia com 40 anos de lá. Quanta inocencia. Que prova cruel da capacidade que as pessoas tem de arruinarem as vidas umas das outras.

As brigas infantis foram se tornando sérias e duradouras. Era quase impossível conter o choro de cirança acuatada, quando chegava o recreio. A horta da escola foi se tornando um refúgio e os empregados viraram todos grandes amigos. Como crianças sao cruéis, a ponto de te acusarem de roubo e brincarem com um problema grave na família. Expondo pra todo mundo os seus defeitos, como se voce já nao os conhecesse.
As brincadeiras se tornaram constantes e invadiram até mesmo o lugar onde eu morava. Parecia que aquelas coisas ruins me espreitavam a cada esquina, a cada comodo. O mundo nao queria me deixar em paz. Ai eu decidi sair daquele lugar. Me livrar de tudo, mudando de vida. Agora, existia uma mancha preta marcando a infancia perfeita e simples.

Eu inspirei fundo, contando até dez e fazendo esforço para que meu coraçao parece de bater tao rápido. Estava a ponto de bater na velha gorda que estava a minha frente. A diretora da escola estava ficando vermelha de raiva e ela cuspia quando falava. Alguma coisa sobre o nome da instituiçao ou sobre como nossos pais saberiam daquilo, como tinhamos desapontado todo mundo. Revirei os olhos, era melhor do que mandar ela se fuder de uma vez.

" Essa menina é louca. Isso aqui nao é lugar pra selvagem " A garota do meu lado berrou, apontando um dedo para mim.

" Lugar de puta também nao é na escola" eu disse, calmamente, sem olha-la.

"CATARINAAA!" a diretora berrou, balançando o papo e me fazendo querer rir " JÁ CHEGA, VOCES DUAS, VOCES ESTAO SUSPENSAS"

Lara, a garota que estava do meu lado, me lançou um olhar raivoso. Apenas sorri.

" Voce deveria ter ficado na sua roça, a gente te avisou" ela disse, baixinho, quando
a diretora nos deu as costas para atender um telefonema.

" É melhor ficar na sua, nao vai ser só o nariz que eu vou quebrar da próxima vez" foi a minha vez de ameaçar, com um sorriso no rosto eu sai da sala. Mas eu nao voltei para a aula de matemática que eu deveria estar assistir. Eu odiava aquela professora, a que mais incitavas os outros alunos contra mim. Só que nela eu nao podia bater. Eu olhei em volta para ver se ninguém estava me observando e desci para o banheiro. Quando eu tranquei a porta da última cabine, eu desabei.

O fato é que eu só tinha me dado mau desde que mudara de escola. Todo mundo tinha me dito que seria bom pra mim, novos ares, gente nova. Mas essa gente nova nao ia com a minha cara. Quando eu pisei na sala pela primeira vez, todo mundo ficou me  olhando, e na hora do recreio ( ops, intervalo), quando descobriram que eu falava pouco, resolveram me deixar de lado.

Aí vieram as brincadeiras, de novo. OLha a "olho torto", "lá vem a lesada", " olha a da roça","tadinha, ela veio de uma escola pequena, por isso é burrinha desse jeito" . Nao me julgue por nao ter feito nada, eu tinha só 11 anos. Meus pais estavam preocupados demais colocando comida em casa pra ficar apartando meus desentendimentos  na escola. Eu fiquei calada.

Nos anos seguintes a coisa só piorou. Me sombavam  mas ninguém nunca teve coragem suficiente pra vir conversar comigo, e saber como eu realmente era. Agora, pensando bem, eu tenho certeza que ninguém fez isso porque sabia que teriam que morder suas línguas, sabiam que eu era melhor que tudo aquilo, que todas elas.

Ok, crianças sao malvadas, adolescentes também, mas, será que ninguém era decente o suficiente para parar com isso ? Eu arranjei vários amigos quando fui para o ensino médio, mas NENHUM deles foi capaz de impedir que 30 pessoas me apontassem o dedo e dissessem " voce é a pessoa mais estranha e odiada da sala", grandes amigos.
Alguém se trancou na porta ao lado e eu dei um pulo com o susto. Eu me sentei na tampa da privada e abracei meus joelhos. Essa vida tava uma merda.

" Catarina ?" Eu congelei. Se descobrissem que eu estava matando aula era mais um motivo para brigarem comigo. " Catarina , é a Letícia, só vim te ajudar"

Eu abri a porta calmamente e lá estava Letícia, encostada na pia, com uma caixinha de primeiros socorros na mao.

" Sua cara tá horrivel, vem limpar todo esse sangue" . Eu olhei para o espelho e me deparei com um rosto coberto em sangue e lágrimas. Nao tinha me dado conta do rasgo na testa que Lara tinha me feito. Apenas me sentei na pia e deixei que Letícia cuidasse de tudo. Eu estava completamente oniciente quando ela começou a falar. Só prestei atençao as primeiras frases " Essas garotas, cutucam o tempo todo e quando tem o que mereçem, ficam chorando pelos cantos ..." Ela estava me defendendo ?

ps.: parte II
parte III

NÃO É INSPIRADO NA MINHA VIDA ,A I MEU DEUS HAHA

Um comentário:

  1. Flor eu já disse que amo seus textos? são bonitos nem tanto descretivos e que me fazem ir para dentro da sua história! Nossa flor como você deve ter sofrido! Mais vai em frente viu? e mostre pro mundo inteiro de que você é capaz! Não te conheço pessoalmente mais acredito que você seja uma pessoa maravilhosa! Um beijjohttp://em-momentos-assim.blogspot.com/

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